quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Que nem a morte os separe


  Doces sonhos de menina, o vestido, as flores e o noivo. O vestido era branco, as flores amarelas e o noivo um jovem magricelo de rosto veneziano, como uma máscara de carnaval translúcida, mas era tão meigo com ela, a moça dos seus desejos, que assim nada mais importava. Havia chegado o tão esperado dia, o casamento, o laço que os uniria a existência corpórea na terra, mas só na terra? Não era pouco, mas também não era bom, a morte sempre ficava a espera de situações importantes como esta, a espera do seu final feliz, possuindo o corpo com um sopro devorador de vidas. Então se ouviu a música, os passos nervosos da moça de coração saltitante, ouviu-se o estalar de dedos do noivo ossudo, o suspiro admirado dos convidados e a voz cortante do padre. Naquele momento era difícil imaginar o que poderia haver de errado, era difícil imaginar os quatro possíveis filhos brigando dentro de casa, a competição dos dois de quem fala mais alto, uma traição ou o futuro divórcio. O amor era a única razão que importava, estavam cegos no deleite de viverem juntos ou morrerem juntos se fosse preciso, a experiência tinha os ensinado uma grande lição, que com a morte e o amor não se brincam.
  -Que nem a morte os separe- sorriu o padre, com aquela mudança na fala, os noivos haviam suplicado minutos atrás para que concordasse com a pequena modificação, grande parte dos convidados não prestaram atenção, que diferença faria? Mas os noivos trocaram um olhar de cumplicidade, pra eles a frase fazia todo o sentido.

                                                               Andressa S.A

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